Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006)
Prezados participantes do Portal União
Que Deus perdoe-me pela notória tacanheza em entender as suas santíssimas palavras, presentes na Sacrossanta Escritura... Entretanto, para não me acovardar ante a uma enxurrada de textos que, muitas vezes, tentam diminuir aquela que foi eleita Mãe da Palavra (mãe do Verbo Divino Encarnado), prosseguirei, nesta minha missiva, o combate apologético.
O ‘front’ em que me debruçarei, agora, será as Bodas de Caná. Destacadamente, a sentença que Maria profere dizendo que devemos ‘fazer aquilo que seu filho dissesse’. Onde, não poucos (inclusive alguns católicos influenciados por uma herética mentalidade protestante) dizem que não é para ela que devemos nos dirigir, mas, única e exclusivamente, para o Cristo Jesus. [Parecendo até que: nos dirigirmos à Maria seria, como que, desviar-se de Cristo. Quanta ignorância!!!] Que, por conseguinte, a Virgem de Nazaré não queria que voltassem para si, mas somente para o Messias de Deus... E outras tantas frases similares.
a) Fica claro, na Bíblia, até pelo que aconteceu, que: sem a obediência, primeiramente, à Maria; não teria ocorrido o milagre de Caná. Haja vista, se os serventes tivessem se recusado a obedecerem a ela (isto é, se tivessem se rebelados à ordenança de tão santa senhora), eles não teriam, em seguida, dado atenção ao que o filho dela lhes ordenasse. Já pensou caso servos de tal casamento tivessem dito algo assim: ‘Quem és tu para nos mandar fazer tudo que teu filho disser’? Mas o que vemos é justamente que: na subserviência, os mesmos acataram o que a Virgem lhes ordenara. Porquanto, disse ela: “Fazei” (Jo 2,5), e eles prontamente foram cumprir a sua prescrição....
b) Entretanto, sempre aparecerá algum desprezador (ou diminuidor) da gigantesca importância da Virgem Santíssima no Mistério Salvífico de Cristo. E um desses, insistentes azucrinantes, ainda diria: ‘Você está enganado, Maria queria que nós obedecêssemos somente a seu filho; não a ela’... E diria isso sem poder refutar:
1o) É visível o paralelo entre José do Egito (o que suprira a escassez de pão) e Jesus de Nazaré (o que supre a escassez de vinho). [Bodas estas que apontam para as Núpcias Celestiais do Cordeiro, onde os serventes são os anjos; e os homens que acolheram o chamado à santidade, os convidados.] Bem como, é notório o paralelo que há entre o ‘senhor’ do Egito e a ‘senhora’ das Bodas de Caná. A frase de Maria é uma ordem, como a ordem régia do soberano egípcio: “Ide a José e fazei tudo o que ele vos disser” (Gn 41,5). [E como os súditos foram submissos às determinações do monarca egípcio; assim também, os serventes das Bodas de Caná atenderam, obedientes, à prescrição da Virgem Santíssima. ‘Esta que é a nossa Rainha: rainha dos servos de Deus!’]
2o) que até o ‘tempo’, neste milagre de Caná, acabou sujeitando-se por causa da intervenção de Maria junto ao seu divino filho. Demonstrando, assim, que: não só a matéria, mas também o próprio o “cronos”, estão sujeitos à petição da mãe e à potência do filho. Sto Agostinho já dizia que até o tempo era criatura. De sorte que, mesmo esta criatura, que é o tempo, deveria curvar-se ante o senhorio dos novos regentes da criação: Jesus e Maria, o Novo Adão e a Nova Eva. [Lembrei-me daquele estrofe da famosa canção de Gerado Vandré (só que dando um outro sentido): ‘Quem sabe faz a hora não espera acontecer’ – haja vista que, embora não fosse a hora, a hora se fez presente.]
c) Em Caná da Galiléia, Maria não disse que era para fazer SOMENTE o que seu filho dissesse. Isso ela não disse!
Além do mais, quem disse que quando alguém fala que é para que fazer o que outros disserem é – necessariamente – uma atitude de diminuição ou auto-exclusão? Donde tiraram tão risível proposição?... Ora, está escrito: “Jesus então dirigiu-se às multidões e aos seus discípulos: “Os discípulos e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem”” (Mt 23,1-2)... E, agora, ó rebeldes (ou pelo menos ignorantes), quando Jesus disse que é para as pessoas ‘fazei tudo quanto’ os fariseus dissessem, ele estava diminuindo-se? Ou pior: será que ele estava dizendo que não era para ouvi-lo, mas tão-somente os fariseus e escribas? Ou ainda: o que importava era seguir, unicamente, aos doutores da Lei? [Pergunto isso porquanto, como foi dito anteriormente, há uma exegese medíocre – de gente que lê e não enxerga – a qual quer afirmar que Maria, ao dizer que era para seguir tudo que Jesus ordenasse, significaria que era para os mesmos obedecerem somente (exclusivamente) a Cristo. E que seria uma espécie de confissão da própria Maria, que supostamente quereria ser excluída, e só o filho é que deveria ser ouvido (todas as atenções voltassem unicamente para ele). O que é uma aberrante e desconcertante interpretação desses tais.]
d) Ademais, Maria, ali, também se comportava como aquela que tem, com o Pai Celestial, um filho em comum. Pois assim como o Pai de Jesus aponta para esse seu Filho (“Este é o meu filho, ouviu-o”(Mc 9,7)), sua mãe, semelhantemente, a ele, nos direciona dizendo: “Fazei tudo que ele vos disser” (Jo 2,5).
Eis, portanto, que, biblicamente, o Pai e a Mãe de Nosso Senhor ordenam que o Filho deles deve ser obedecido por todos. (Não um ou outro, mas ambos assim prescrevem!) Traduzindo em miúdos, tais passagens bíblicas, anteriormente citadas, equiparam-se a um pai e uma mãe que dizem aos serviçais: ‘Obedeçam nosso filho’. E, em nada, o pai e a mãe são diminuídos porque os serventes lhe obedecem. Aliás, os pais são, por deveras, engrandecidos pela obediência dos servos ao seu filho. (Porquanto, subsiste o seguinte raciocínio na mente dos genitores: se obedeceram ao nosso filho, conforme prescrevemos, significando que obedeceram, primeiramente, a nós – que lhes ordenamos que o obedecessem!) Além do mais, é mostrado, claramente, os pais como causa da obediência dos servos ao seu rebento. É isso mesmo! E para se comprovar tal afirmativa, basta fazer a seguinte pergunta: por que os servos vêm a obedecerem o filho? Não é, justamente, porque os pais mandaram que eles o obedecessem?]
Portanto, quem não obedece a Jesus, afronta tanto o Pai como a mãe de Nosso Senhor! (Que nos mandam obedecê-lo.)
e) É também ocasião para Jesus provar, contundentemente, sua obediência filial à mãe. Como um dia, pela ocasião de sua Paixão, ele provaria (de modo mais veemente) sua obediência filial ao Pai.
De fato, mais tarde, embora desejoso (em sua vontade humana) de não passar pela terrível martírio da cruz e chegar a pedir: “Ó Pai! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice” (Mc 14,36); entretanto, mesmo assim, foi plenamente submisso ao seu Divino Pai Eterno: “Contudo não a minha vontade, mas a tua seja feita” (Lc 22,42). De maneira semelhante, embora não sendo oportuna a ocasião [como ele próprio testemunha: “Ainda não chegou a minha hora”], Cristo foi submisso à sua queridíssima mãe, agindo em favor das necessidades dos convivas (que era o que Maria desejava).
A obediência do filho é mais comprovada quando estes (os pais) lhes mandam fazer algo desagradável (como morrer numa cruz) ou, pelo menos, quando lhes ordenam agir quando não é da sua conveniência (como agir fora de hora ou inoportunamente). [Pois, para um filho fazer algo que lhe seja agradável, ainda mais num tempo conveniente, é bastante fácil – até mesmo os filhos menos dignos são capazes de fazê-lo.]
Cristo, em Caná, queria mostrar, portanto, dentre outras coisas, o quão valiosa era intervenção de sua mãe (e o quão grandiosa era sua consciência em honrar sua genitora); a ponto de ele não deixar de lhe atender, mesmo não sendo uma hora adequada.
f) O Reino dos Céus é um reino, daí também ter a sua rainha. A qual, certamente, participa tanto das glórias (das alegrias) como dos sofrimentos do seu rei. Aliás, era típico da história do rei judaico, conforme testifica a Escritura Sacra, essa participação da sua mãe, a rainha-mãe (a “geburah”), igualmente nos momentos mais periclitantes e inglórios de seu filho monarca. Por isso, está escrito: “Dize ao rei e a rainha-mãe: sentai-vos bem embaixo, porque caiu de vossas cabeças a coroa de vosso esplendor” (Jer 13,18). Onde, claramente, a mãe do rei é associada ao infortúnio do seu majestoso filho. Portanto, se Maria participou do regozijo de Caná, também haveria de se esperar que participasse do seu sofrimento no Calvário. [Curiosamente, São João – em seu evangelho – só menciona a mãe de Jesus neste dois episódios: em Caná, onde o filho é glorificado; e, no Calvário, onde ele é crucificado... Seria mera coincidência? Creio que não! Assim, é que, tanto na alegria do seu real rebento, como no padecimento deste, Maria é aquela que se faz participe.]
Lembremos que a Crucificação de Cristo, carnalmente, era visto com uma derrota: a derrota do “rei dos judeus” (conforme ele fora nomeado); mas que, espiritualmente, foi a grandiosa vitória que todos os cristãos confessam. De modo que, Maria participara tanto de uma como de outra realidade: da “derrota” e da vitória de seu divino e régio filho. (Não há contradição nisso, porquanto é derrota sob um aspecto e é vitória em outro.)
Eis porque, ao lado daquele que foi traspassado no corpo, estava aquela que foi transpassada na alma. De Jesus, com efeito, é dito: “um dos soldados traspassou-lhe o lado” (Jo 19,34); e de sua mãe: “A ti, uma espada transpassará tua alma” (Lc 2,35). Daí, enquanto o Cristo de Deus, na crucificação, vertia até a última gota sanguínea, creio que a Virgem vertera as suas últimas lágrimas (a ponto de secar as bolsas lacrimais, se isso biologicamente é possível). Lágrimas que, como dizem, são o sangue do “coração” (ou da alma). Quão estupendo sangue, quão preciosas lágrimas, produzira a Crucificação de Nosso Senhor! [Portanto, ladeando o Tabernáculo Santíssimo, que era corpo de Cristo, estava o “altar” do coração de Maria.]... Ferindo Cristo, feria-se Maria! Ele o “servo” (At 3,13) sofredor por excelência, e ela a “serva” (Lc 1,38) dos sofrimentos: a Nossa Senhora das Dores.
[Se por um filho criminoso e ímpio, condenado a ser fuzilado (que é uma morte quase que instantânea), uma mãe comumente tanto sofre; imagine, então, o que não sofreria uma genitora que vê seu filho santíssimo, perfeitíssimo, boníssimo ser injustamente condenado à morte, e morte de cruz, que é das mais terríveis e ignominiosas formas de execução inventadas pelo ser humano? Por isso, sem chance de errar, afirmo: Nada e ninguém – depois do próprio Senhor Altíssimo (Cristo Jesus) – sofreu tanto, quanto Nossa Senhora, o Sacrifício do Calvário. Não à toa costuma-se dizer que Jesus sofreu a Paixão, Maria a Compaixão. E de fato (como já foi comentado): um foi o transpassado no corpo; o outro, n’alma.]
São João, aliás, termina a narrativa das Bodas da seguinte forma: “Depois disso desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos” (Jo 2,12). Ora, esse modo seqüenciado de citar os que deixam Carfanaum lembra, um pouco, o modo seqüenciado em que é narrada a partida do rei Joaquim de Jerusalém: ““Então Joaquim, rei de Judá... ele e sua mãe, seus oficiais, seus dignitários e seus eunucos, e os reis da Babilônia os fez prisioneiros” (2 Rs 24,12).
É curioso também notar: se aqueles (o rei Joaquim e rainha-mãe são rebaixados) tendo sido retirado-lhes a majestade (daí, cair-lhe a coroa de suas cabeças); em contrapartida, quanto ao Nosso Senhor e Nossa Senhora, suas majestades celestiais, são firmemente proclamadas no Alto dos Céus, segundo narrou o mesmo João no Apocalipse: ‘a coroa sobre cabeça da Mulher e o cetro na mão do Filho’ (cf. Ap 12,1.5). [A coroa e o cetro, indiscutivelmente, são signos das majestades: tanto da mãe como do filho, respectivamente.]
g) Tem gente que acha que IMPÉRIO messiânico é uma democracia... pobres coitados!
Vaticinou o profeta Daniel sobre o Messias (e sua era messiânica): “A ele foi outorgado o império... Seu império é eterno que jamais passará” (Dn 7,14). Tanto é que é Deus quem define, livre e autoritariamente, quais são aqueles que ocuparam os lugares de máxima honra em seu reino: à direita e à esquerda do trono do divino Filho. Assim declarou Jesus Cristo: “Todavia, sentar à minha direita e à minha esquerda, não cabe a mim concedê-lo; mas é para aqueles que o Pai o preparou” (M t 20,23). Lembremos ainda que, na Bíblia, também está escrito: “À tua direita uma dama” (Sl 45 (44),10). [Aliás, esse assento destro, ao que tudo indica, seria o lugar destinado a “grande dama”, ou rainha-mãe: “Mandou colocar um assento para a mãe do rei e ela sentou-se à sua direita” (1 Rs 2,19).]
Para o Pai celeste, vale muito mais a obediência do que mil reverentes prostrações. Afinal um filho honra mais obedecendo ao seu genitor do que com genuflexões. [Quantos não devem ter sido, por exemplo, ao longo da História, os bispos que até se prostravam ante o Romano Pontífice, e tratava-o com palavras melífluas e chamando-o de papa (pai), mas que não lhe acatavam as prescrições e determinações.] Não que não se possa reverenciar aqueles que são autoridades, prostrando-se perante eles. É claro que pode sim... mas importa, primeiro, é honrar-lhes pela obediência.
Por isso, como fizeram os soldados do exército imperial terreno, nós podemos e até devemos saudar Nosso Senhor em prostração. “Saudá-lo: “Salve, rei dos judeus” ” (Mc15,18); entretanto, jamais com o sentido zombeteiro e com o escárnio que eles apresentaram. Aliás, a palavra bíblica, presente nessa saudação régia, é a mesma que aparece na reverente “saudação” (Lc 1,29) feita pelo “soldado do céu” (o Anjo Gabriel) a mãe do Senhor: “Ave (ou salve), cheia de graça” (Lc 1,28) [Que certamente, da parte do ser angelical, nada tinha escarnecedor, muito pelo contrário.]... Em suma: Kaire (salve), Cristo! Kaire (salve), Maria!
Portanto, enquanto o soldadesco grupo do exército terreno zombava da pessoa divina do Cristo; curiosamente, um dos legionários das hostes celestiais reverenciara aquela pessoa humana, que era Maria. [Quão grandes coisas, de fato, o Altíssimo fez por ela! Não à toa, a mesma não só é sumamente agraciada; mas também é a extremamente agradecida; ‘pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em seu favor’ (cf. Lc 1,49). A fez a grande imperatriz do Reino do Céu! Cujo filho é o “Príncipe dos reis da terra” (Ap 1,5).]
ADENDO: parece que, como é típico à providência divina, Deus quis que seu Filho nascesse quando o primeiro imperador (do maior império da Antiguidade) ‘de fato’ surgir, o Otavio Augusto. E também que Jesus viesse a falecer quando foi estabelece o primeiro imperador de ‘direito’ (Tibério). ... Mas, para que essa “coincidência”? Não seria para assinalar que, paralelamente ao império efêmero do mundo, deslanchava-se o império eterno messiânico?... [Cujo Cristo nascera, cronologicamente, sob o “edito de César Augusto” (Lc 2,1); e cumpriu sua missão ao tempo de “Tibério César” (Lc 3,1). Nascido no período do ‘primeiro’ imperador de fato, e renascido (ou seja, ressuscitado) no do ‘primeiro’ imperador de direito!]
P.S.: Tudo que escrevi está e estará, sempre, sujeito a um maior e melhor juízo que é o da Santa Madre Igreja. Ela que tem o poder de corrigir, refutar, completar e tudo o mais que for necessário à preservação incólume do Sagrado Depósito da Fé.
[Adendo 1: Perdoem-me pelo que vou expor a seguir, pois pensei em não o escrever; mas, quem sabe, talvez tenha algum sentido: Será que – hipoteticamente – nas Bodas, a pessoa divina do Filho concedeu sujeitar sua vontade divina à uma Criatura (sua mãe Maria); em contrapartida, à sua futura Paixão, em que haveria de submeter sua vontade humana ao Divino Pai Criador? Honrando, assim, de modo surpreendente, a mãe: ao sujeitar-lhe a vontade divina, que ela não possuía; porquanto, sendo apenas de humana natureza (e não divina), Maria não desfruta desse dom em si. Também, com relação ao Pai Celeste, Jesus ofertou aquilo que não é próprio da natureza do Pai, ou seja, a sua vontade humana? (De fato, o Pai não tem vontade humana.) Ofertando, dessa forma, por meio da sujeição, aquilo que, respectivamente, os seus pais não possuíam por natureza. Ao Criador, a vontade humana; à criatura, a divina! Pois Cristo, verdadeiramente, tem duas vontades (tendo duas naturezas)!... Ah! Se fosse, de fato, dessa maneira que acabei de especular; então, quão insuperável modo de honrar a mãe Jesus testemunhou, não é mesmo?]
Bibliografia
- A BÍBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.
Fiquem com Deus!
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“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
(Sei que teria que escreve um livro inteiro (quiçá uma enciclopédia) só para comentar esta maravilhosa passagem bíblica dos Esponsais de Caná; entretanto, ater-me-ei, por hora, ao que escrevi até aqui.)
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