Leia primeiro a parte 1.
Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006).
Prezados Participantes do Portal União
Venho, pois, falar um pouco mais a respeito da Intercessão dos Santos; destacando, principalmente, as chamadas Aparições.
a) Na questão que foi enfocada neste site sobre se São Paulo teria recorrido, alguma vez, à intercessão de S. Estevão, de fato, não dá para provar (de modo inquestionável) que isso tenha acontecido; nem, tampouco, o contrário: que ele não tenha, jamais, solicitado os rogos deste servo de Deus que passara a viver com o Senhor, em sua Morada Celestial. Fica uma dúvida. Nessa dúvida é que se tem, como que, a liberdade de se crer (ao menos em possibilidade) que o referido apóstolo teria solicitado tal intercessão. E isso é lógico.
Permitam-me, só para efeito especulativo, fazer o seguinte comentário (ainda que, para nós católicos, possa parecer até esdrúxulo). ‘E se São Paulo não tivesse nunca recorrido a intercessão de algum santo celestial?... Isso não quer dizer que, necessariamente, fosse proibido fazê-lo. [Para sê-lo, a Bíblia tinha que expressamente proibir. E, verdadeiramente, em nenhum lugar da Escritura Santa existe tal proibição.] Simplesmente, ele poderia considerar dispensável tal prática. E uma prática dispensável, não quer dizer que seja errada’....
b) Também é óbvio que, certas postulações são, por deveras, inócuas, insossas mesmo; como, por exemplo, querer sugerir que solicitar a um Santo para rogar, e alcançar de Deus a saúde que precisamos, seria colocar Jesus em segundo plano. Chega a ser ridícula, tal assertiva. Porquanto, o mesmo aconteceria, então, quando também um protestante pede a um pastor para rogar pelo restabelecimento de sua saúde.
Será que, quando um “evangélico” pede ao pastor para que ore por sua saúde, ao invés de pedir diretamente ao Senhor Jesus, ele estaria relegando a Cristo? É claro que é não! Apenas se está reconhecendo (como no caso das solicitações que católicos fazem aos santos) que Deus também aceita os pedidos feitos por meio das criaturas. Obviamente, sempre confessando que a fonte primeira de toda graça é Deus (o Pai, o Filho e o Espírito Santo); que é quem, afinal, decide se vai conceder ou não a bênção requisita, seja esta solicitada diretamente ou indiretamente.
c) Todavia, temos que ter sempre em mente, que os protestantes não seguem a Bíblia, que mandar guardar as tradições (tanto as que foram escritas, como as que foram preservadas oralmente), conforme 2 Ts 2,15. Eles, aliás, são fruto da rebelião luciférica, não por menos, é que surgiram de divisões réprobas (e, ao longo dos séculos, só produziram mais divisões ainda). Também, não à toa, até a “Bíblia” deles é faltosa: faltam livros.
E ainda que, absurdamente, tivéssemos que assumir a Bíblia como nossa única regra de fé, com certeza absoluta, não seria a bíblia amputada (e que, portanto, pode dar margem a uma diversidade de deformações doutrinárias) que é utilizada e reconhecida pelos que são afeitos às doutrinas heréticas.
Nós católicos, só pela revelação, ‘digna de fé’ (cf. 2 Mac 15,11), que está narrada no Segundo Livro dos Macabeus – a qual diz respeito a situação em que se encontra o profeta Jeremias, no além, intercedendo pelos vivos – estamos plenamente cientes de que os santos, no outro mundo, estão conscientes e, no amor perseverante (pelos que ainda peregrinam nesta terra), rogam por nós. De fato, está escrito: “Apareceu a seguir, da mesma forma, um homem notável pelos cabelos brancos e pela dignidade, sendo maravilhosa e majestosíssima a superioridade que o circundava. Tomando então a palavra, disse Onias: “Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito ora pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus” ”(2 Mac 15,13-14).
É interessante notar que, nessa descrição, fala-se que o santo profeta Jeremias “apareceu” (2 Mac 15,13) ‘circundado’ de autoridade... Ora, similarmente, sobre a aparição de Elias e Móisés, S. Lucas escreveu que estes dois ‘aparecidos’ estavam também contornados por algo de sublime valor: “Eram Moisés e Elias que, aparecendo envoltos em glória” (Lc 9,30-31). [Não é curioso que, em certas aparições, que vem acontecendo ao longo da História Cristã, são narradas a presença de um costumeiro halo de luz em derredor dos santificados.]
Obs.: É verdade que as chamadas aparições particulares (extra-bíblicas) não têm um valor dogmático. Entretanto, com respeito a algumas delas, a Igreja permite que se dê uma fé humana...
e) Abraão disse, com relação aos irmãos do rico, que: “Se não escutam a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão” (Lc 16,31). Isto é, para os incrédulos à Palavra de Deus, não adianta nem mesmo um sinal maior (que é, no caso, um morto voltar carnalmente ou corporificado); então, obviamente, um sinal menor, como é uma alma de homem, menos ainda adiantaria. [Bem sei que essa é uma leitura minha, e longe estou de ser um douto da Sagrada Igreja de Deus, mas, na limitação de minhas capacidades intelectivas, parece-me ser, pelos menos, plausível uma interpretação dessa monta. Se não é, desde já, perdoem-me: e não só o que acabei de escrever; mas também as “bobagens” que, por ventura, venham a ser escrevinhadas.]
E é semelhante a alguém que diz: ‘Se até o papa aparecesse hoje na minha cidade natal, mesmo assim eu não sairia de casa’; ou seja, não adianta, pois, enviar ao referido município, naquele dia, um bispo, tendo como intuito fazer a tal pessoa sair do seu lar. Haja vista se nem por causa do maior (o Romano Pontífice) ele sairia.
A questão, portanto, não é que não se pode enviar a alma de um justo, ou mesmo um justo ressuscitar; mas a incredulidade, tamanha, daqueles irmãos. Abraão jamais disse que os espíritos dos mortos não podem se manifestar, nem, muito menos, que mortos não ressuscitam. (Já pensou se ele tivesse dito uma coisa destas? Que faríamos, por exemplo, como as várias ressurreições descritas nas Sagrada Escritura?) Aliás, o mesmo também não disse que não tinha poder (dado por Deus) para fazê-lo.
Se Abraão não tivesse o poder de fazer tal coisa, por que ele não disse, de cara, que não podia fazê-lo? Falando algo do tipo: ‘Olha eu não posso enviar um morto à Terra’, ou mesmo: ‘Nem posso atender qualquer tipo de pedido (por mais simples que seja)’. Não, ele não disse nada disso. Acentuou, sim, que não adiantaria mandar um sinal de tal quilate a pessoas tão incrédulas quanto aqueles irmãos.
De qualquer jeito: é, no mínimo, bastante estranho crer que uma alma condenada ao inferno, conforme costumam considerar a situação do rico epulário no além-túmulo (em Lc 16), pudesse ter seu pedido deferido. É, óbvio, que Abraão não atenderia uma petição feita por uma tal pessoa. A negativa revelada nessa passagem bíblica, então, seria a de que: as almas condenadas eternamente não têm seus rogos atendidos. E, portanto, ela, em absoluto, não diria respeito aos justos, que estão em um estado de bênção bem distinto.
f) O fato, porém, é que Abraão pôs a questão no condicional: “SE” não ouvem a Palavra de Deus, não adianta. Entretanto, e ‘se’ eles tivessem o hábito de escutá-la? Aí as coisas seriam diferentes? Lázaro poderia ser enviado a eles (sem, sequer, estar corporificado)?
Verdadeiramente, quando dizemos: ‘Se ele não estudam, não adianta pagar-lhe a inscrição no Vestibular’, estamos condicionamos uma situação à outra. E, uma vez, cessada a causa que impede que o efeito se realize; é possível concluir que o efeito, agora, poderá acontecer. No caso: ‘Adianta, sim, pagar a inscrição, já que ele estuda’.
Penso, porém, que: se se tratar, de fato, de um precito (uma alma condenada ao inferno); então, nem mesmo assim (se a causa impediente fosse eliminada), o pedido do rico seria aceito... Mas, por que Abraão colocou a questão no condicional? (Fica aí um mistério a ser respondido?!) [Quem sabe, noutra ocasião, eu venha a aprofundar esta questão.]
g) Certamente, os mortos podem vir a este mundo, ao menos corporalmente (isto é, ressuscitados). E vindo, é possível que eles sejam causa ou incentivo à conversão. Assim, aliás, é o exemplo do amigo de Cristo, por ele ressuscitado, o Lázaro. De fato está escrito: “Uma grande multidão de judeus, tendo sabido que ele estava ali, veio, não só por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, que ele ressuscitara dos mortos. Os chefes dos sacerdotes decidiram, então, matar também a Lázaro, pois, por causa dele, muitos judeus se afastavam e criam em Jesus” (Jo 12,9-11)... [Se, para aqueles cincos irmãos do “avarento”, não adiantaria nem mesmo um ressuscitado aparecer-lhe (quanto mais um simples espírito incorpóreo), o mesmo, obrigatoriamente, não ocorre com as demais pessoas. Posto que, muitas destas, ante manifestações de pessoas falecidas, pelo menos as que são ressuscitadas, passam a creditar.]
Todavia, a própria Escritura também aponta-nos para a possibilidade de “aparições” não corpóreas de seres santificados. Como, muito provavelmente, seria o caso de Moisés no monte da Transfiguração, perante os apóstolos Pedro, Tiago e João. (Pois Moisés havia morrido há séculos e eis que reaparece, neste episódio, depois de tanto tempo de falecido.) Está escrito: “Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João... E eis que lhes apareceram Moisés e Elias conversando” (Mt 17,1.3).
h) Não podemos, no entanto, nos esquecer que: SE as “aparições” procederem verdadeiramente de Deus, então, significa que é Deus que está respondendo a algum apelo ou necessidade dos seres humanos. É o Altíssimo que está a “falar” por meio delas. De fato, do mesmo jeito que o Senhor pode atender nossos pedidos feitos por intermédio de criaturas; também ele pode nos dar uma resposta, semelhantemente, por mediação de seres que ele criou. (Inclusive, curando-nos pela mediação destes).
É como eu costumo exemplificar através de uma parábola. ‘Um nobre que passeava em seu cavalo, conduzido por um servo seu, vendo um pedinte à beira da estrada, fez sinal para que o seu pajem parasse. Então, descendo da montaria, dirigiu-se ao mendigo e deu-lhe duas moedas de ouro. Lá, adiante, encontrou um outro mendigo; só que desta vez, ao invés de descer do seu corcel, mas apenas chamando o serviçal para junto de si, disse-lhe: “Tome essas duas moedas e as dê aquele pobre homem”. E assim foi feito’... Então eu questiono: qual das vezes o nobiliárquico ajudou? Obviamente, nas duas vezes; embora de modos diferentes. Na primeira vez, pessoalmente; na segunda, por intermédio de um servente seu. Semelhantemente é Deus; haja vista ele pode ministrar pessoalmente uma bênção (ou trazer uma comunicação), como também poderá fazê-lo indiretamente. [Exemplo de valorosos ministros de Deus Altíssimo são os santos anjos.]
Obviamente, é uma tremenda tolice crer que Deus (ou o seu poder, ou a sua glória) é diminuído por ele utilizar-se d’alguma criatura, serva sua, como intermediária de alguma mensagem ou bênção; como é suficientemente demonstrado no caso dos seres angelicais... E não são os “santos apóstolos”, as “santas mulheres”, os “santos profetas” criaturas santificadas de Deus, sendo igualmente servas do Altíssimo; por que, razão, então, o mesmo não poderia fazer mão delas como ministras suas, na ordem da caridade?... Argumentar (ou mesmo pensar) que isso seria uma desonrar ou mitigaria a glória de Deus é, verazmente, ridículo e altamente imbecil. Pois, até através de um “infeliz” (sujeito às limitações temporais e ao pecado) como eu, o Senhor, se assim desejar, pode usar como “ministro”; quanto mais, por conseguinte, os que já “chegaram à perfeição” ( Hb 12,23).
Ademais, não nos esqueçamos: “Os que forem julgados dignos de ter parte no outro mundo e na ressurreição dos mortos... são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus” (Lc 20,34-36).
i) As visões, na Bíblia, se apresentam de diversos modos (em sonho e também pessoalmente) e em diferentes formatos. Podem ser, pelo menos, em de dois tipos de formatos, discursivas (em que se ouve mensagens) ou, ainda, puramente figurativo. Também é possível uma conjunção de ambos, como às que costumava ter o profeta Daniel: “Eu estava considerando com atenção quando vi um bode que vinha do ocidente... Então ouvi um santo a falar. E outro santo disse àquele” (Dn 8,5.13). Outra forma que não podemos esquecer de mencionar é a interativa (em que o vidente interage com um ser sobrenatural na visão/aparição), como as descritas por São João no Apocalipse: “Um dos Anciãos tomou-me a palavra e disse-me... Eu lhe respondi” (Ap 7,13s.); ou a que Salomão, em sonho, falara com Deus: “Iahweh apareceu em sonho a Salomão durante a noite. E disse: “Pede o que te devo dar”. Salomão respondeu” (1 Rs 3,5s). [As aparições do Arcanjo São Gabriel a Zacarias e à Maria também podem incluir-se neste tipo.]
j) São João, no Apocalipse, por arrebatamento, diz ter visto multidões de santos: “Eis que vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9). [E, aqui, subsiste mais esta possibilidade: de que, se santos não vem até nós, é possível que alguns de nós irmos até eles.]
De que maneira podem os daqui ir até eles? Corporalmente? ... A resposta que costumo dar é que a que está na Segunda Epístola aos Coríntios: “Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado ao terceiro céu – se em seu corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe! Eu sei que esse homem... foi arrebatado até o paraíso” (2 Cor 12,2-4).
Ou seja, ao menos no campo das possibilidades, São Paulo admite tanto uma como outra forma de as pessoas serem ‘arrebatadas visionariamente’.
E se alguém, daqui, pode partir para lá, ou no corpo, ou fora dele; então, não vejo dificuldade alguma em acreditar que os de lá possam vir aqui, semelhantemente, ou corporalmente ou só animicamente. E não seriam os dois santos da Transfiguração, Elias e Moisés, exemplos dessa dupla possibilidade de se aportar no presente mundo? Elias representaria os que se manifestam com corpo; e Moisés, os sem corpo.
P.S.; Tudo que escrevi está, e sempre estará, sujeito à autoridade da Igreja Católica. A qual poderá corrigir, refutar, completar e tudo o mais que for necessário para preservação da integridade do Depósito da Fé.
[Adendo 1: Por que razão eu não disse, de modo indubitável, que aquela alma do rico epulão estava no Inferno? Porquanto, como toda passagem bíblica há interpretações diferenciadas (quase que, ao gosto de cada freguês), eu já li uma que não afirma esse comum entendimento; desconsiderando que o referido homem como sendo um precito.]
[Adendo 2: É sempre oportuno lembrarmos que os livros deuterocanônicos NÃO foram inventados pela Igreja. Até por que, eles já existiam antes mesmo de Jesus nascer. Os mesmos, inclusive, foram tidos por muitos judeus como de inspiração divina; não à-toa, terem sido incluídos na Versão Septuaginta, que é de séculos antes da era apostólica.]
[Adendo 3: Os protestantes, por serem adeptos do livre exame, não têm qualquer autoridade para contestar a interpretação da Igreja Católica, ou de qualquer outro grupo. Já que tal nefando princípio daria a qualquer um o direito de se guiar pelo seu particular entendimento, sem ter que se submeter a nenhum magistério. No fundo, o livre exame, é a máquina que o diabo inventou para torcer e retorcer as Santas Escrituras; algo sumamente reprovado pelo primeiro Papa da Igreja (cf. 2 Ped 3,16) e por Deus. Ou simplesmente, diríamos: o livre exame é uma ‘fábrica de heresias’! Basta vermos quantas interpretações sobre a Eucaristia há no meio protestante (ainda que eles adotem uma única bíblia e, em comum, tenham-na como regra de fé)?]
[Adendo 4: Se nem todos são doutores (cf. 1 Cor 12,29), então, muitos, por mais que estudem a Escritura, não teriam a mesma capacidade de entendimento que os poucos, aos quais foram dados o carisma do doutorado, têm; não é mesmo? De fato, se nem todos são doutores, estes todos teriam que seguir a “interpretação” (ou o entendimento) dos que são. Se é assim, como pode subsistir o livre exame da Bíblia? Haja vista, se muitos, que não são doutos, devem submeter-se a alguns que são? Como ficaria: o basta a Bíblia como única regra de Fé? (Já que há necessidade de doutores para a perfeita compreensão da revelação divina, e nem todos são doutores!)... Aclarem-me, por favor, o que é o dom de doutorado!]
Bibliografia
-A BIBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.
Fiquem com Deus!
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
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